terça-feira, 17 de agosto de 2010

I am your voodoo doll




E foi aí que percebi que estava completamente amarrada da cabeça aos pés. Sentada numa cadeira já evelhecida com o tempo, dentro de uma sala repleta de bonecos de porcelana, outros apenas com pano a forma-los. Sentia o suor a escorrer-me pela testa e a fita que estava a tentar selar os meus lábios começava a não surtir efeito nenhum. Tentei retirar as fivelas que prendiam as minhas mãos e os pés à cadeira. Como é óbvio, foi em vão e deu apenas para gastar as poucas energias que ainda tinha. A sala era pouco iluminada, por isso não era capaz de ver com nitidez aquilo que realmente me rodeava. Só quando me acostumei à luz é que pude ver que ao fundo da sala, na mesma direcção que eu, estava um rapaz amarrado também por fivelas a olhar directamente para os meus olhos. Desviei o olhar e baixei a cabeça. E sem ele notar, desviei de novo o olhar para ele, e com minha surpresa este tomara a mesma posição que eu, e mesmo na escuridão, consegui ver o seu olhar a cruzar o meu. Os meus pelos eriçaram e fiquei ainda com mais calor apesar dos arrepios que teimavam em percorrer a minha espinha. Não tentei falar. Só precisava de o observar, e mesmo quando desviava o olhar, este era de novo puxado para o dele, como se fosse um iman. Observei também que quando me mexia, este tomava a mesma posição que eu.
Continuei a tentar libertar-me das fivelas, mas sem sorte nenhuma. Comecei a olhar em volta, mas não encontrei nada em que pudesse agarrar, ou pelo menos chegar-lhe. Continuei em vão a soltar as fivelas, até que uma mão tocou a minha, e os meus olhos fixaram os dele. Eram negros como o carvão e a sua face não demonstrava qualquer sentimento. Libertou-me, e eu levantei-me e fiquei frente a frente ao seu corpo. A sua mão encontrou a   minha e estas encaixaram. Tentei dizer algo, mas as palavras encontravam-se presas na minha garganta, com uma extrema vontade de sair. O meu olhar reencontrou o seu, e assim ficamos, num silêncio impenetrável.

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