terça-feira, 12 de outubro de 2010

Embora penses que não, é um sim.


Caminhava. Caminhava a passos largos, sem sequer saber a sua direcção. O dia foi engolido pela noite estranha e escura como breu. E ela caminhava a olhar para os seus pés a deslizarem pelas ruas encharcadas por causa das horas a fio que chovera. Nada lhe agradava mais que andar à chuva, especialmente à noite. As ruas estavam desertas, ouvindo risos dentro das casas, acolhedoras e quentes com o calor da lareira. Mas ela não gostava disso. Já não. Porque já se imaginou, antigamente, sentada à lareira, presa num abraço tão forte e num olhar tão penetrante, mas depois deparou-se com frio, mesmo estando à frente da lareira com o fogo vivo. As lágrimas começaram a escorrer pela sua suave cara sem pedir permissão e assim continuaram. Ela tentou esconder a sua cara com o seu longo cabelo negro, mas na verdade, não havia ninguém para a ver naquele momento tão solitário. Envolvida nos seus pensamentos, caminhou e não reparou que chegara a um sitio completamente escuro, e nessa noite, a lua cheia era a única fonte de luz para iluminar aquele beco escuro. Desistiu e sentou-se no chão, frio e molhado.
-É tudo tão cruel- mencionou ela para si mesmo, com uma voz trémula,  não esperando resposta, mas no seu subconsciente, esperando então um sinal.
Tentou limpar as suas lágrimas, mas era em vão, pois elas insistiam em cair, sem fim próximo. Colocou as suas mãos na cara e chorou sem dó nem piedade, ali, sozinha, naquele beco escuro apenas iluminado pela doce lua. Sentiu o toque de umas mãos quentes nas suas, e erguendo a cabeça, olhou para a frente, e lá estava ele, como sempre prometeu. Lá estava ele para afagar as suas lágrimas ou mesmo para chorar a seu lado. Lá estava ele para lhe dar o calor que ela precisava à frente daquela lareira já extinta à demasiado tempo. Lá estava ele para a fazer sorrir e para lhe dar de novo a luz aos seus olhos. Lá estava ele para a poder completar.
-Porque só vieste agora? -Perguntou ela, tentando evitar as lágrimas, soluçando continuamente.
-Nunca é tarde demais.- E assim, os seus lábios uniram-se aos dela como se fosses feitos para coexistirem juntos, e aquele beijo foi o mais longo da sua memória, e ela sentiu-se quente, confortável e de novo em casa. Sorriu para ele, e este retribuiu o sorriso e disse:
-Já tinha saudades desse teu sorriso. Aliás, do meu sorriso.- Disse, com os seus braços a envolverem o corpo dela, tentando pô-la de novo em pé.
-Estou com frio. Vamos lá acender a nossa lareira.
E assim, caminharam para um sitio, que nem eles sabiam aonde era. Mas ali, naquele sitio tão desconhecido, iriam ficar assim, envolvidos um no outro no seu... Feliz para sempre.

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