segunda-feira, 21 de junho de 2010

O tempo (Parte 3)



Finalmente, após eternidades depois daquele momento constrangedor e óptimo, a comida e o nosso maravilhoso vinho chegaram. O empregado colocou-me à frente um prato com um pão de trigo de aspecto macio e fresco com queijo no seu interior. Depois serviu-nos de vinho até meio copo, colocou a garrafa na mesa e foi-se embora. Admito que tive a impressão que este me fitava mais vezes do que o necessário. Sentia borboletas no meu estômago e por causa disso perdi a fome. Debatias-te em algum pensamento, e fitaste de novo as labaredas. O teu olhar ganhou uma nova cor, um castanho alaranjado. Era capaz de te ficar a observar durante bastante tempo, perdendo-me completamente nas horas. Bebemos o nosso vinho e poucas palavras foram ditas. Passamos a maior parte do tempo a olhar-nos nos olhos, e confesso que me perdi milhares de vezes na imensidão do teu olhar. Tossiste para aclarar a voz e disseste "Queres ir embora?" Eu sorri por dentro, pois conseguiste ler os meus pensamentos. "Por mim sim." Levantei-me enquanto ajeitava a saia e recompunha a minha blusa. Pegas-te no meu casaco e ajudaste-me a vestir, e senti que inspiravas o cheiro que provinha do meu pescoço e ouvi um gemido baixo que saiu da tua boca. "Cheiras maravilhosamente bem". Senti que as minhas bochechas tornaram-se de novo vermelhas e disse, quase num som inaudível "Obrigada". Pense para mim em dizer o quanto ele cheirava bem e o quanto o cheiro dele me punha louca e fora de mim. Mas, felizmente, não fui capaz. Dirigiste-te ao balcão e deixas-te lá uma nota, e foste embora, sem esperar pelo troco. O empregado que nos atendeu viu, e ainda tentou dizer algo, mas logo viras-te costas e rodeaste-me com o teu longo e forte braço. Quando saímos a chuva já tinha passado. Caminhamos pela rua sem dizer nada, até que quando esta começava a ficar desprovida de luz, entraste comigo num beco e encostaste o meu corpo à parede fria. "Não consigo mais lutar contra o que é inevitável." Disseste, sussurrando no meu ouvido, e com isso provocas-te arrepios na minha espinha. Estremeci e um gemido inaudível saiu da minha boca. Começaste a cheirar o meu pescoço enquanto o beijavas levemente. A minha respiração começou a aumentar, e o meu coração palpitava no meu peito. Depois, agarrei a tua cara com as minhas duas mãos, e levei os teus lábios aos meus, obrigando-te assim a beijar-me. Correspondes-te ao meu beijo animalesco e eu rodeei a minha perna direita na tua cintura, ficando com o salto a bater-te no fim das tuas costas. Senti o teu corpo junto ao meu como nunca antes tinha sentido. Beijas-te o meu pescoço e foste descendo, beijando a minha clavícula. Ouvi alguns roídos, talvez provocados pelos animais, ratos a passarem por aquele beco escuro. Sentia-me quente, muito mais que o habitual, e tive uma súbita vontade de despir o teu casaco e a tua camisola e sentir a tua doce e suave pele. A igreja deu as 12 badaladas, e tu despertas-te de algo. Depressa me largas-te e disseste "Não podemos ficar, vem comigo" Não tive tempo para me ajeitar, pois tu pegaste na minha mão e começaste a andar num passo acelerado. Não sabia o que estava a acontecer mas no fundo sabia que não seria nada de agradável.

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