segunda-feira, 14 de junho de 2010

Passos largos em duas direcções

Caminhei por entre passos largos num caminho que achava ser só meu. Que julgava pertencer-me como julguei mais outras coisas. Mas estava enganada. Este caminho tinha mais para se dizer do que a sua aparência. Os animais e outras criaturas estavam todas escondidas nos pequenos arbustos nas margens deste caminho de terra batida. Mas eu, sem lhes dar ouvidos, caminhei. Umas vezes demasiado rápido por causa dos sons arrepiantes que estes produziam. Ainda assim, caminhei sem olhar para trás. E sentia-te aqui. Sentia-te ao meu lado, embora também te sentisse ainda longe, a acompanhar as criaturas das margens. Agarrei todas as pedras deste caminho, não para fazer um castelo, mas sim para impedir de tropeçarmos nelas. Mas tu nem te deste ao trabalho de te curvar durante uns momentos e de me ajudares. Ficaste apenas a observar-me enquanto curvava o meu corpo e fazia um trabalho que valia por duas pessoas. Ainda assim, com este peso horrível, caminhei porque por vezes, temos que lutar para poder-mos continuar com o corpo inclinado e com a cabeça erguida. Fiquei farta de caminhar, com o peso e contigo a ir e a vir. Cansei-me de caminhar, e de tropeçar em pedras que julgava tu teres apanhado. Cansei-me de te ouvir a gargalhar com as outras criaturas enquanto eu ainda tentava sorrir. Cansei-me, e de repente parei. Sei que estavas à espera de esta paragem. Podias não a desejar, mas com os teus actos, esta foi inevitável. Larguei tudo o que carregava e fui ao teu encontro. Aí, vi tudo o que escondias por de trás da tua pele macia e brilhante. Descobri coisas que não queria sequer saber que existiam. Mas observei com olhos de desejo, e sem me aperceber, rodeei-te com as pedras que tinha guardado durante toda a caminhada. Não o deveria ter feito. Deveria ter-te ajudado a sair de ao pé dessas criaturas e obrigar-te a caminhar comigo, mostrando-te o que existia neste tão belo caminho. Fui demasiada tola para perceber que estava a agir de uma forma que tu nunca agirias. Mas mesmo assim, fi-lo. As razões, só eu as conhecia, mas não chegavam para te encurralar, sabendo que se fosse comigo, tu trarias-me de novo para o caminho. Mas os feitos feitos estão, e não se pode voltar atrás. A única coisa a fazer é tirar todas as pedras à tua volta e construirmos uma fogueira quente no meio do caminho. É que a esta hora já faz frio, e um fogo entre nós sabe sempre bem.


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