quinta-feira, 15 de abril de 2010

O tempo (Parte 1)

Uma rua estreita, com portas todas seguidas, casas sem sinais de vida. As pedras da calçada estavam distribuídas de uma forma aleatória, existindo fendas entre elas. Não existia luz nessa rua, e nesses pequenos prédios existiam alguns toldos, velhos e sem cor devido aos longos anos de sol. Estava a chover torrencialmente e eu andava sozinha por essa rua como se estivesse uma linda noite de lua cheia. A água escorria pela minha face e o meu cabelo estava também encharcado e junto á cara. O meu casaco chegava-me aos joelhos e era preto com botões. Tinha também uma camisola preta decotada e para o conjunto, uma saia preta justa, pouco acima dos joelhos. Os meus sapatos estavam encharcados, e as gotas de água ficavam presas nas minhas meias de vidro. Caminhava com as mãos nos bolsos do casaco e com a mala pequena ao ombro.
Não pensava em nada e apenas sentia a doce chuva a tocar no meu corpo. Sentia-me ensopada. Trazia uma rosa no bolso esquerdo, e esta já perdia as suas pétalas pelo caminho, como se quisesse marcar a minha presença ou o caminho que fiz durante aquela chuvada inacreditável.
Tudo se baseava em becos escuros e abandonados. Parecia um filme de terror, mas ao contrário disso, sentia-me optimamente bem.
Continuei a andar sem destino aparente, até que ao fundo, estava um homem também com um casaco até aos joelhos preto e as suas mãos estavam nos bolsos. O seu cabelo dividia-se em tiras e era capaz de ver pequenas gotas de água nas pontas dos cabelo. Estava de cabeça baixa, e quando me ouviu o passo, levantou a cabeça e o nosso olhar encontrou-se. O teu olhar fez-me oscilar e parar naquele mesmo sitio.
Parei sem razão. O teu olhar era forte e brilhante.
Retomei caminho sempre na tua direcção. Parei quando o meu corpo estava junto ao teu. Tiras-te a rosa com poucas pétalas e entregaste-me "creio que isto é teu". O teu tom de voz fez com que um arrepios na espinha me aquecesse. Olhei de relance para o meu bolso e de facto, a rosa que outrora estava lá, estava agora nas tuas mãos.

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