sábado, 17 de abril de 2010

O tempo (parte 2)


A tua mão estava gelada e arrepiaste-me quando tocaste com ela na minha pele macia e quente. O teu olhar estava em chamas e consumia todo o meu ser. Peguei na rosa e voltei a coloca-la no meu bolso esquerdo. "Queres ir beber um copo?" perguntas-te despreocupado com o facto de estar a chover, e eu, sem querer recusar a tua oferta, acenei com a cabeça que sim, e caminhamos lado a lado até à taberna mais próxima.
A chuva parecia abrandar cada vez mais e as ruas já começavam a iluminar-se mais com os lampiões. Ias com as mãos nos bolsos e de cabeça erguida, olhando em todas as direcções. Estavas com receio de algo, esperavas algo e no entanto não querias esperar por isso pois não o desejavas. Chegamos a uma taberna com uma tabuleta a dizer "O Recanto". Entramos e o cheiro a álcool entrou pelas minhas narinas como água a correr por um riacho. Estava cheio de pessoas com um aspecto um pouco selvagem e descuidado. Muitos localizavam-se no balcão, de pé, a por a conversa em dia e a beber copos de vinho entre gargalhadas. Sentamo-nos a um canto livre da sala, ao pé da lareira. Ajudaste-me a por o casaco no bengaleiro e puxaste-me a cadeira para eu me poder sentar. Depois, tiras-te o teu casaco e sentaste-te numa cadeira à minha frente. A taberna tinha bastantes candeeiros a óleo e o cheiro a pão quente com queijo abriu-me o apetite."Estou com fome" disse eu para dar hipotece de pedir algo para comer para além da bebida. "E o que desejas comer?" perguntas-te e colocas-te o cotovelo na mesa e a tua mão ficou a segurar o teu queixo. Estavas com um ar exausto. "Não sei, qualquer coisa. Um pão com algo, talvez queijo." Olhaste para o balcão e fizeste sinal para que o empregado se localiza-se à mesa. Olhei para a lareira e o fogo estava atiçado. O calor que dali provinha punha-me suficientemente confortável para me descontrair. Coloquei os braços sobre a mesa. Só naquele momento observara a rosa e a vela que se encontravam no seu centro. A rosa era de um vermelho vivo e era bastante bonita. Passei com os meus dedos pelas suas pétalas e estas eram suaves como o algodão. Fiquei um quanto tempo a admirar a rosa e quando dei por mim, estavas com o teu olhar pousado em mim, e quando olhei para ti assustei-me pelo simples facto de não me ter apercebido disso. Perdida no teu olhar,só acordei quando ouvi uma nova voz a perguntar "Boa noite. O que desejam?" olhaste para o empregado e disseste "Quero um pão com queijo seco, e uma garrafa de vinho tinto" olhaste para mim com um ar de dúvida e eu acenei com a cabeça para confirmar o pedido. O empregado dirigiu-se ao balcão para tratar do nosso pedido. "Esta noite estás linda". Senti-me corar momentaneamente e imaginei como estaria a minha aparência. Toda molhada, talvez borrada por causa da chuva. Ao lembrar-me desse pequeno pormenor, levantei-me e disse "Vou só a casa de banho".
Olhei para as portas e entrei onde dizia mulheres. O espelho estava logo ali à frente. As minhas bochechas tinham um leve tom vermelho e o meu cabelo tinha um volume anormal. Tinha ainda os lábios vermelhos do batom e as minhas pestanas encontravam-se ainda longas, como se tivesse acabado de pôr rimel. Só os meus olhos estavam um pouco borrados, por isso tirei um pouco de papel e tratei do assunto. Depois lavei as mãos e voltei a dirigir-me à mesa. Agora eras tu que estavas perdido nas chamas da lareira. Sentei-me e acordaste. Depois, com um sinal, pediste para me inclinar para a frente, e tocaste os teus lábios nos meus. Senti-me invadida por um calor intenso e demasiado agradável. Os teus lábios estavam quentes e eram doces. Poderia dizer até que estes me sabiam a mel, e apesar de não gostar de mel, os teus lábios foram a coisa mais doce que já provei na vida. Ainda com as mãos na mesa, decidi colocar uma sobre a tua face, e apercebi-me que estavas também quente. Depois, invadiste-me com o teu hálito ainda mais doce e tive o enorme prazer de provar a tua saliva. A tua língua enrolador na minha e trocamos uma energia incontrolável. Depois finalizaste o beijo com os teus lábios pousados nos meus. Olhas-te para mim, e o teu olhar sufocava-me e dava-me ainda mais desejo de continuar a beijar-te. O teu olhar apoderava-se de mim e naquele momento só me conseguia sentir como se fosse a tua marioneta. Com o teu olhar, tinhas todo o poder sobre mim. Eras tu que comandavas os meus movimentos e as minhas palavras. Depois voltei-me a sentar e apostava que estaria ainda mais vermelha do que à pouco. Riste-te e levas-te o teu polegar ao canto da minha boca para limpar um pouco do batom que ficou ali esborratado. Depois olhas-te para mim e com o teu olhar tudo disseste.

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