terça-feira, 13 de julho de 2010

Let me go

  http://palavrassemsentido.files.wordpress.com/2008/01/mulher-praia-a-noite.jpg 



   -Sinceramente não sei que mais te dizer. Não tinhas o direito de o fazer e de me deixares assim, com as mãos vazias- disse enquanto as lágrimas começavam a irromper e a deslizar pela minha face. Levei as mãos à cara, virei-te costas e continuei a andar, fechando a porta trás de mim. Entrei no quarto e a escuridão foi a minha companheira durante um bom tempo. Esperava que fosses bater à porta e esperava que insistisses para entrares e para me pedires desculpa vezes sem conta. Mas uma vez enganei-me. Acendi a luz, pois a claridade lá de fora extinguira-se com o passar do tempo. Olhei-me ao espelho e reparei que os meus olhos estavam tão inchados como se estivesse com alguma alergia. E tinha, uma forte alergia a ti. Tentei limpar o resto das lágrimas que estavam nos meus olhos, calcei os meus chinelos, e sai pela porta. Olhei pelo canto do meu olho para a sala, e lá estavas tu, com as mãos à cabeça, com os cotovelos nos joelhos, sentado ao canto do sofá. "É bom que estejas arrependido", pensei para mim enquanto agarrava nas chaves e saia porta fora.
   Mal me recordo do caminho que fiz até à praia, pois os meus olhos inundaram-se de novo. Tu não tinhas o direito de me deixar na merda outra vez. De me deixares sozinha, de me virares costas para sempre.
Senti a areia nos meus pequenos pés e assim descalcei-me. Senti-me deveras mais confortável. Caminhei devagar de modo a prolongar aquele conforto. Caminhei até ir ao encontro do mar, brincado com os meus pés na espuma da rebentação das ondas. Sentei-me sobre aquela areia molhada, molhando assim o meus vestido preto. Continuei a chorar enquanto observava o por do sol no horizonte. Sem esperar, ouvi uma voz familiar atrás de mim.
   -Posso-me sentar aqui contigo?- disseste com um ar de remorso na tua voz. Eu nada disse, mas tu fizeste questão de te sentar na mesma, e eu, com as minhas pequenas mãos, tentei afagar todas as lágrimas que teimavam em cessar. Não disseste nada e eu não tinha razões de prenunciar nem uma palavra, mas como consegues sempre destruir todas as barreiras, decidi perguntar-te.
   -Só queria perceber porquê? Porque me deixas agora, depois de tudo o que aconteceu, de tudo o que passamos. Não te peço mais nada, e não me alongarei sobre o assunto.
   Olhas-te para mim com aquele olhar que sempre me cativou, mas com toda a minha força consegui evitar a doce tentação de te beijar, e fiz-me de forte enquanto te olhava directamente nos olhos à espera de um bom argumento.
   -Não tenho razão. Simplesmente não sei que te dizer. Eu amo-te, mas não consigo lutar mais, por isso vou desistir. Vou ser mais fraco que tu, vou ser covarde e fugir com o rabo entre as pernas. Não penses que não te amo, porque simplesmente não se trata disso.- Disseste enquanto as lágrimas começavam a formar-se nos teus olhos verdes, e eu, sem conseguir mais, peguei na tua cara com as minhas duas mãos, olhei directamente nos teus olhos e uni os meus lábios aos teus. Aquele beijo demorou mais do que qualquer um e nunca senti a tua falta como naquele momento. Nunca te amei tanto como naqueles breves segundos. No inicio nada fizeste, mas depois agarraste-me e juntas-te o meu corpo ao teu, e o beijo prolongou-se e eu desejei que não acabasse. Desejei com todas as minhas forças que isto não acabasse. Abrimos os olhos e vi o teu olhar como nunca, e consegui ouvir os teus pensamentos e senti arrepios múltiplos pela minha espinha. Não me largaste, e eu pousei a minha cabeça no teu peito. Sem mais nenhuma palavra, ficamos ali até se tornar noite, e depois, pousaste-me na areia, beijaste-me a testa, e foste-te embora, como se estivesses deixado uma boneca de corda sem mais voltas a dar.

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