quinta-feira, 8 de julho de 2010

A menina solitária



Era uma vez uma rapariga que detestava estar sozinha, mas apesar disso a solidão era a sua melhor amiga. Brincava com as suas bonecas sozinha, desenhava sozinha, via televisão sozinha e até falava sozinha. Não é um sinal de loucura, mas sim de solidão. Ninguém se tinha apercebido da sua vida tão solitária, mas ela apercebias-se disso a todas as horas da sua misera vida. Tentou fazer amigos, mas estes nunca queriam sequer a sua companhia, quanto mais brincar ou falar com ela. Assim vagueava e chutava latas de refrigerantes vazios na rua. Tal e qual como ela. Num dia não diferente dos outros, tentou dizer para si mesma, em frente do seu espelho recheado de tudo aquilo que ela não tinha. "Não preciso de ninguém. Não preciso de carinho nem de de palavras aconchegadas. Não preciso..." Começou então a soluçar enquanto tentava conter as suas lágrimas. Depois desta pequena crise, olhou de novo para o seu espelho e então mentalizou-se que sozinha poderia ser tudo, que poderia ser tudo o que queria sem ter obstáculos no seu caminho. Um dia, no fim da tarde, decidiu passear na praia. Era um dia calmo, sem agitação nesta praia, e ela até gostava do silencio, apesar de estar rodeada por ele. Molhou os seus pequenos pés na água fria e estremeceu. Olhou para o sol, já escondido por de trás da cidade iluminada, e sentou-se na areia molhada. Brincou um pouco com a areia fina e depressa se fartou. De repente, sentiu um doce toque no seu ombro esquerdo, e por de trás dela estava uma menina com os seus olhos verdes e com o seu negro encaracolado cabelo. Nada disse, apenas estendeu a sua pequena mão, e quando a abriu estava lá uma concha de uma tonalidade laranja. Era ondulada e com umas formas uniformes. A rapariga embasbacada com aquilo perguntou "Isto é para mim?" A outra menina acenou com a cabeça e entendeu ainda mais a mão. A rapariga pegou na concha ainda molhada pela água do mar, e este peso na sua mão foi agradável. A outra menina, sentou-se ao seu lado, com o seu vestido branco com rosas azuis e fitou a luz do por do sol. Assim ficaram durante algum tempo. Nunca foram precisas palavras. A rapariga que estava habituada a lidar com a solidão ficou reconfortada com aquela presença nova, e sentiu esboçar-se um sorriso na sua face, um sorriso genuíno. A menina olha para ela, e pela primeira vez, ela pode ouvir a sua doce voz. "Dá-me a tua mão e vamos passear a beira mar. Vamos molhar os pés naquela água fria e assim ficar-mos até ter-mos todo o nosso corpo gelado. Mais não te peço." Assim, levantou-se e estendeu a mão para a rapariga. Esta correspondeu e deu-lhe a mão enquanto caminhavam para aquele mar tão calmo. Sentiu-se bem, como nunca antes se sentira. Ela dirigiu-se à menina, com uma voz tremula e com algum receio. "Não me largues a mão. Estou farta desta solidão tão presente." A outra menina olhou bem fundo para os olhos da rapariga e disse "Não estava à espera de fazer algo diferente." E assim ficaram, a observar a luz do crepúsculo, de mãos dadas, iniciando assim uma amizade eterna.

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